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Na pandemia, um Lar.


Legenda: Lar de São João Baptista, Queimada, Armamar, Viseu (via Facebook)


Escondida no interior do distrito de Viseu, encontramos a aldeia de Queimada. Inserida no concelho de Armamar, esta freguesia é casa de, segundo os censos de 2011, 285 habitantes. Em adição a esse número, existem também outros 48 que vivem permanentemente no Lar de São Baptista.

Devido à pandemia do Covid-19, este foi um dos muitos lares do país inteiro que sofreu as consequências de se ter de isolar do resto do público. Para tentar compreender as dificuldades sentidas pela instituição, estivemos à conversa com o diretor do lar, assim como a psicóloga regente e uma funcionária do estabelecimento.

Chegámos à porta da Igreja Matriz da Invocação a São Pedro pouco depois das 7 horas da tarde. O Sol preparava-se para desaparecer do horizonte, e com o vento a soprar fortemente, sentámo-nos à espera do Padre Leontino Carvalho Alves, diretor e fundador do Centro Social e Paroquial de Queimada, no qual se integra o Lar de São Baptista. Aquando a sua chegada, falámos acerca da forma como o lar abordou as dificuldades impostas pelas quarentenas e pela iminência do vírus.


A manutenção do contacto entre os utentes e as suas famílias surgiu rapidamente à conversa, devido à impossibilidade da entrada a não utentes dentro do edifício. Segundo Leontino, assim que se estabeleceram as novas regras sanitárias, foram estabelecidas “visitas [por] videochamada, em que as famílias ligavam e os utentes falavam”, numa forma de manter a proximidade, assim como visitas físicas em que as famílias falavam do jardim para os familiares que aguardavam nas varandas. “Nunca houve o isolamento total”, até para os idosos acamados que, mesmo com as suas dificuldades de mobilidade, foram oferecidos a possibilidade de ver os seus através das janelas do lar.



Segundo a psicóloga Joana Fernandes, foram implementadas determinadas medidas para manter os utentes ativos, nomeadamente no âmbito da estimulação cognitiva. Trata-se de um programa que exercita a memória, linguagem, evocação, habilidade construtiva e cálculo. Além disso, a psicóloga afirma que “As alterações sentidas a nível emocional foram verificadas nos seniores que ainda apresentam um grau elevado de autonomia”, sendo que ao restantes residentes que sofrem de doenças neurológicas, “causadoras de um acréscimo na dificuldade de compreensão e esquecimento”, era necessário ser “feito de forma regular e simples um enquadramento e explicação da pandemia, para minimizar o impacto da mesma no cotidiano dos seniores”, porque tal como Leontino explica, alguns pacientes de Alzheimer não compreendiam a razão pelo qual não era possível continuar a manter as suas rotinas pré-pandémicas, como ver a família ou ir às compras.


Para além dos utentes, os mais afetados por estas restrições foram os funcionários que prestam auxílio aos residentes. Como nos conta Beatriz Teixeira, uma das auxiliares do lar, os trabalhadores tiveram de trabalhar em turnos de 15 dias devido ao risco de propagação do Covid-19, não podendo abandonar o lar durante esse período e fazendo com que os utentes “notassem a diferença”. 


Apesar deste esforço para manter a normalidade, certas atividades foram canceladas ou imensamente limitadas devido à sua realidade social e à impossibilidade de entrada de pessoal exterior. Apesar das eucaristias terem sido canceladas por inteiro, outras celebrações religiosas, como o Natal e a Páscoa, realizaram-se na mesma. No entanto, limitaram-se somente aos utentes e staff, não existindo então a habitual presença de animadores culturais e de figuras políticas locais. Mesmo após a extinção de diversas atividades, a pandemia implicou graves custos no orçamento do lar devido ao custo adicional de produtos de higiene e segurança pessoal, tais como álcool-gel, máscaras, viseiras e fatos de proteção.


De forma a ter uma explicação mais elaborada e completa da entrevista do Padre Leontino, é possível ouvir a entrevista na sua íntegra abaixo, via SoundCloud:


Agora que as restrições se aliviam lentamente e a pandemia dá sinais de abertura, as medidas impostas dentro e fora do lar podem ser removidas faseadamente. Assim, a normalidade será imposta aos poucos. De momento, os utentes já são permitidos a visitar as instalações exteriores pertencentes ao lar, incluindo a terapia com animais, que possui avestruzes, pavões, entre outros. Ainda falta para que seja possível viver a vida tal e qual como os tempos pré-pandémicos, mas, caso não existam obstáculos na evolução da pandemia, não deverá restar muito mais tempo para que tal ocorra. No entanto, apesar de todos os fatores negativos a cercar o lar devido ao vírus, existem sempre momentos de luz nestes momentos escuros. 


Abaixo, é possível visualizar um vídeo das celebrações do Verde Loureiro, realizadas no passado mês de março:

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